domingo, 21 de setembro de 2008

Só de Sacanagem ( Elisa Lucinda)



Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta a prova?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro, que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples do meu pai, minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha".
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear, mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" eu vou dizer: -Não importa, será esse meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar lmpo a quem a gente deve, e receber limpo de nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e escambau. Dirão: "É inútil, todo mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal".
Eu direi: -Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final.

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